quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Prova de Redação da UFC - Verstibular 2008 ( a editar)

Proposta 1

Leia os textos que seguem.

Texto 1

Álvaro fugia e evitava Isabel; tinha medo desse amor ardente que o envolvia num olhar, dessa
paixão profunda e resignada que se curvava a seus pés sorrindo melancolicamente. Sentia-se fraco para resistir, entretanto o seu dever mandava que resistisse.
Ele amava, ou cuidava amar ainda Cecília; prometera a seu pai ser seu marido; e, na situação em
que se achavam, aquela promessa era mais do que um juramento, era uma necessidade imperiosa, uma fatalidade que se devia cumprir.

ALENCAR, José de. O Guarani. Fortaleza: Edições UFC, 2006, p. 240.

Texto 2

Loura e morena: duas faces do feminino.
Duas donzelas são responsáveis pela representação do feminino em O Guarani: Cecília, a loura; e
Isabel, a morena. Mais do que simples traço de distinção física entre ambas, os atributos “loura” e “morena” são marcas de diferença racial e social e, acima de tudo, apontam para dois pólos opositivos e complementares na configuração do feminino na trama romanesca.

SCHMIDT, Simone Pereira. “As relações feminino/masculino em O Guarani”. In:
Revista Letras de hoje. Porto Alegre: PUCRS, v. 30, nº 1, março 1995, p. 64.

Texto 3

ENSAIO – É um texto literário breve, em prosa, situado entre o poético e o didático, caracterizado pela liberdade crítica e pelo tom pessoal assumido pelo autor, que expõe suas idéias, críticas e reflexões a respeito de um tema. Consiste, portanto, na defesa de um ponto de vista pessoal e subjetivo sobre um tema. Difere do artigo, principalmente, no que tange à forma de expressão das idéias: enquanto no artigo são expressas opiniões, no ensaio pressupõe-se o amadurecimento de convicções, ou seja, o autor apresenta uma argumentação convincente, resultado de uma reflexão baseada em dados.
Texto elaborado com base em MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 2004, p. 175-178.
A Academia Cearense de Letras está compilando diversos ensaios para organizá-los em uma obra intitulada Personagens Femininas de José de Alencar.

· Produza um ensaio no qual você analisa o antagonismo abordado por José de Alencar, em O Guarani, através das personagens Cecília e Isabel. Lembre-se de que seu texto deve apresentar a descrição das duas personagens e a reflexão acerca do enfoque dado por Alencar à oposição entre elas.
Proposta 2

Texto 1

(...)
O que admira na nova peça de Eduardo Campos, O Morro do Ouro, é a perfeita identificação do
teatrólogo com o ambiente posto em destaque. (...) Acredito que o autor será bastante criticado por muita gente que ainda acha que em uma obra de arte, sobre a nudez pura da verdade, deve vir sempre o manto diáfano da fantasia. (Fran Martins) (...)
Van Jafa, no Correio da Manhã, escreveu: Rosa do Lagamar deixa bem clara a qualidade de Eduardo Campos, que teve a seu favor a personagem Rosa (telúrica e de características gregas). (...) Rosa do Lagamar indica uma vez o caminho de um teatro brasileiro, de um teatro repleto de autenticidade, de um exato teatro regional, a comédia de costumes, típico de aspectos sociais e por vezes políticos.
(...)
A Donzela Desprezada é o menos realista dos três textos. O foco menos aproximado. Se no Morro e em Rosa, Eduardo Campos tem um olhar, digamos, “microscópico”, na Donzela ele é mais distanciado. Por isso algumas passagens parecem apenas esboçadas, um texto em elaboração. Prevalecem cenas curtas, telegráficas, cenas simultâneas, ritmo ágil.
COSTA, Marcelo. “Um autor em dois atos”. In: CAMPOS, Eduardo. Teatro: teatro completo de
Eduardo Campos. Vol. II, Fortaleza: Edições UFC, coleção Alagadiço Novo, 1999, p. 13-20.

Texto 2

PARECER CRÍTICO – gênero textual no qual, além da resenha da obra, constam a avaliação das idéias expostas, a apresentação dos aspectos positivos e negativos, a justificativa da avaliação e, finalmente, deve constar do parecer o aconselhamento, ou não, da adoção da obra analisada.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais: o que são e como se constituem. Recife: UFPE, 2000, p. 103.

Uma editora deseja reeditar obras cujas histórias acontecem em Fortaleza. Dentre elas, consta Três Peças Escolhidas, de Eduardo Campos. Entretanto, a editora só o fará depois que receber um parecer crítico de um leitor jovem. E você foi o escolhido para fazer isso.

· Produza um parecer crítico sobre Três Peças Escolhidas, de Eduardo Campos, no qual você analisa a obra, especificamente, conteúdo, linguagem, gênero textual, e, em seguida, posiciona-se, favoravelmente, ou não, à publicação da referida obra. Lembre-se de que, por tratar-se de um concurso, seu parecer não deve ser assinado, sob pena de sua prova ser anulada. Se, mesmo assim, pretender fazê-lo, só poderá usar um codinome: LEITOR JOVEM.

Proposta 3

Texto 1

“Sempre que me acontece alguma coisa importante, está ventando”, costumava dizer Ana Terra. Mas, entre todos os dias ventosos de sua vida, um havia que lhe ficara para sempre na memória, pois o que sucedera nele tivera a força de mudar-lhe a sorte por completo. Mas em que dia da semana tinha aquilo acontecido? Em que mês? Em que ano? Bom, devia ter sido em 1777: ela se lembrava bem porque esse fora o ano da expulsão dos castelhanos do território do Continente. Mas, na estância onde Ana vivia com os pais e os dois irmãos, ninguém sabia ler, e mesmo naquele fim de mundo não existia calendário nem relógio.
Eles guardavam na memória os dias da semana; viam as horas pela posição do sol; calculavam a passagem dos meses pelas fases da lua; e era o cheiro do ar, o aspecto das árvores e a temperatura que lhes diziam as estações do ano. Ana Terra era capaz de jurar que aquilo acontecera na primavera, porque o vento andava bem doido, empurrando grandes nuvens brancas no céu, os pessegueiros estavam floridos e as árvores que o inverno despira se enchiam outra vez de brotos verdes.
VERÍSSIMO, Érico. Ana Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 7.

Texto 2

Pedro teve de abandonar a lavoura para se incorporar à tropa de Chico Amaral.
– Uma coisa me diz que desta guerra eu não volto – murmurou ele quando se preparava para partir.
Arminda, que chorava com Bibiana agarrada às saias, não disse nada. Mas Ana Terra, que tinha os olhos secos, botou a mão no ombro do filho e falou:
– Volta, sim. (...) Pense nos seus filhos, na sua mulher, na sua lavoura.
Os olhos do Pedro brilharam.
– Mãe, tome conta de tudo.
– Nem precisa dizer.
(...) Ao partir ele estava pálido. Sabia como era a guerra. Não tinha nenhuma ilusão.
E de novo o povoado ficou quase deserto de homens. E outra vez as mulheres se puseram a esperar.
E, em certas noites, sentada junto do fogo ou da mesa, após o jantar, Ana Terra lembrava-se de coisas de sua vida passada. E, quando um novo inverno chegou, e o minuano começou a soprar, ela o recebeu como a um velho amigo resmungão que gemendo cruzava por seu rancho sem parar e seguia campo fora. Ana Terra estava de tal maneira habituada ao vento que até parecia entender o que ele dizia. E nas noites de ventania ela pensava principalmente em sepulturas e naqueles que tinham ido para o outro mundo. Era como se eles chegassem um por um e ficassem ao redor dela, contando casos e perguntando pelos vivos. Era por isso que muito mais tarde, sendo já mulher-feita, Bibiana ouvia a avó dizer quando ventava: “Noite de vento, noite dos mortos...”

VERÍSSIMO, Érico. Ana Terra. São Paulo: Companhia das Letras, 2005, p. 98-99.
Bibiana não conheceu o avô, Pedro Missioneiro, apenas sabia que morrera muito cedo, antes mesmo de ter-lhe nascido o filho, Pedro Terra, pai de Bibiana. Naquela noite, ela teve a curiosidade de pedir à avó, Ana Terra, que lhe descrevesse seu avô e que contasse como se conheceram e como ele morrera.

· Produza um texto, em 1ª pessoa, no qual Ana Terra descreve Pedro Missioneiro, avô de Bibiana, e narra à neta um pouco da intensa, embora meteórica, história dos dois: Ana Terra e Pedro Missioneiro.

Prova comentada da UFC - 2º fase - Língua ?Portuguesa

VTB 2008 – 2ª ETAPA
01. A) Nos parênteses abaixo, seguem-se informações acerca da vida e da obra de Antônio Sales. Coloque V
ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que se afirma.
Antônio Sales participou, no Ceará, de agremiações literárias, como a Academia Francesa 1
( ) e a Padaria Espiritual; sendo, desta, o fundador ou o “Padeiro-mor” 2 ( ). Embora tenha
ajudado Machado de Assis a fundar a Academia Brasileira de Letras 3 ( ), sabe-se que Antônio
Sales dela não quis tomar parte 4 ( ), como também não pertenceu à Academia Cearense de Letras 5
( ).
O único romance que Antônio Sales conseguiu publicar em vida foi Aves de Arribação.
Entretanto, postumamente, veio a público um outro romance seu: Águas Passadas 6 ( ).
O escritor cearense legou ao seu povo uma vasta produção poética 7 ( ). Versos Diversos,
Trovas do Norte e Minha Terra são exemplos de obras nas quais dedicou-se ao gênero poesia 8 ( ).
B) Escolha duas informações que você considerou FALSAS, reescreva-as de modo a torná-las verdadeiras,
indicando o número de cada informação.
B.1. Informação No: _______
B.2. Informação No: _______
Questão 01
Resposta item A: (F) – (V) – (V) – (V) – (F) – (F) – (V) – (V).
Resposta item B: (1) Antônio Sales não participou da Academia Francesa; (5) Antônio Sales pertenceu à
Academia Cearense de Letras e (6) Postumamente, veio a público um livro de poemas: Águas Passadas.
Comentário: A questão 01, dividida em dois itens, explora o conhecimento dos vestibulandos acerca de
Antônio Sales, autor do livro escolhido para esta prova, de sua atividade literária, quer no Ceará, quer no
Rio de Janeiro, e de sua produção nos gêneros poesia e prosa. Sabe-se que Antônio Sales não tomou parte
da Academia Francesa, agremiação literária fundada no Ceará em 1872, de acordo com Barão de Studart,
ou 1873, de acordo com Saraiva Câmara e Azevedo. Essa agremiação, cujos trabalhos findaram em 1875,
teve como principais integrantes: Tomás Pompeu Filho, “o pai espiritual de toda essa geração de
pensadores”, nas palavras de Farias Brito; Rocha Lima, tido como a principal figura intelectual da
Academia, apesar de ser o mais jovem; Capistrano de Abreu; Araripe Jr.; João Lopes e Xilderico de Faria.
Assim, é falsa a informação de que Antônio Sales tenha participado dessa agremiação. Contudo, este autor
não só participou da Padaria Espiritual como foi um dos responsáveis pela sua fundação. Aliás, o nome
desta agremiação foi por ele escolhido, e o hilário programa pelo qual ela ficou conhecida foi por ele
elaborado, o que lhe rendeu o título de “Padeiro-mor”. Desse modo, é verdadeira a informação de que
Antônio Sales foi participante e fundador da Padaria Espiritual, cujas atividades foram encerradas em 1898.
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Por entre a aparente inocência das rodas de palestras à tardinha e a maledicência explícita da
temida Feira, circulam vidas de pracianos e nativos, faz-se a história de Ipuçaba.
Adentremos, pois, a fictícia Ipuçaba de Antônio Sales em Aves de Arribação e, como as tais
aves, migremos com sucesso rumo à Universidade Federal do Ceará!
Pouco tempo antes, em 1897, Antônio Sales mudou-se para o Rio de Janeiro: foi trabalhar no Tesouro
Nacional e no Correio da Manhã, periódico no qual foi publicado, em folhetins, Aves de Arribação, em
1903, de acordo com Azevedo. Na capital da República, o cearense entrou em contato com grandes
escritores da época; dentre esses, Machado de Assis, a quem ajudou na fundação da Academia Brasileira de
Letras. É famosa a recusa de Antônio Sales em candidatar-se a uma cadeira dessa Academia. Acontece que
ele era bastante modesto, “carecia de ambição, (...) Não cortejava a glória literária, antes ria-se
dela” (Rachel de Queiroz). Sendo assim, são verdadeiras as informações de que Antônio Sales ajudou
Machado na fundação da Academia Brasileira de Letras e de que dela não quis tomar parte. Entretanto,
após o seu retorno ao Ceará, fato que aconteceu em 1920, contribuiu para a reorganização da Academia
Cearense de Letras. Então, a informação de que ele não tenha participado da Academia Cearense de Letras
é falsa. Antônio Sales legou-nos, em vida, apenas um romance: Aves de Arribação. Outro ficou inacabado,
infelizmente: Estrada de Damasco. Porém, após a sua morte, veio a público um outro livro seu: Águas
Passadas, pertencente ao gênero poético. Logo, a informação de que Águas Passadas trata-se de um
romance é falsa. Poeta acima de qualquer coisa, o que podemos perceber mesmo em determinadas
passagens de seu romance Aves de Arribação, Antônio Sales legou ao povo cearense uma vasta obra
poética: Versos Diversos, Trovas do Norte, Poesias e Minha Terra, além da já citada Águas Passadas, obra
póstuma, são exemplos de produções que ele realizou no âmbito da poesia. Portanto, as duas últimas
informações da breve biografia de Antônio Sales que aqui fizemos são verdadeiras: ele deixou para a sua
terra natal uma enorme produção, em termos de poesia, e Versos Diversos, Trovas do Norte e Minha Terra
são exemplos de algumas das obras que formam esse seu legado poético. Assim, temos, no texto da questão
01, três informações falsas, no que tange à vida e à obra de Antônio Sales: a primeira, que aponta a sua
participação na Academia Francesa; a quinta, que diz que o escritor cearense não tomou parte da Academia
Cearense de Letras; e a sexta, que afirma ser Águas Passadas um romance póstumo. As três informações
tornam-se corretas deste modo: (1) Antônio Sales não participou da Academia Francesa; (5) Antônio Sales
pertenceu à Academia Cearense de Letras e (6) Postumamente, veio a público um livro de poemas: Águas
Passadas.
Pontuação: A questão vale dez pontos e é composta de dois itens, sendo que o item A vale oito pontos, um
ponto para cada preenchimento correto, e o item B vale dois pontos, um para cada reescrita verdadeira.
02. A. Abaixo, temos duas colunas: à esquerda, descrições do trabalho realizado por determinados
profissionais; à direita, o nome de algumas personagens de Aves de Arribação. Relacione cada uma
das personagens de Antônio Sales com a descrição do trabalho por ela realizado na obra.
( 1 ) Funcionário público que recebe os tributos do Estado. ( ) Casimiro
( 2 ) Funcionário que executa o andamento de causas e atos de justiça. ( ) Balbino
( 3 ) Indivíduo que transmite a outros uma ciência, disciplina ou arte. ( ) Alípio
( 4 ) Oficial público que redige autos, atas e outros documentos da fé pública. ( ) Francisco (Chico)
Herculano
( 5 ) Indivíduo que se dedica à arte de governar; estadista. ( ) Asclepíades
( 6 ) Indivíduo que congrega as pessoas em torno da fé, prega a paz e a
união entre os povos e realiza sacramentos religiosos.
( ) Agrela
( ) Bilinha
B.1. Na Literatura Brasileira, também outro romance trabalha as profissões como traço importante na
composição do caráter das personagens nele envolvidas e como forma de fazer alusão àquelas que
se movimentam na narrativa. Essa obra, de Manuel Antônio de Almeida, publicada em 1854-55,
época em que vigorava, no Brasil, o Romantismo, é de difícil classificação, pois possui, assim como
Aves de Arribação, traços românticos, mas antecipa características realistas; sendo, exatamente por
isso, considerada uma obra de transição por parte da crítica. Esse livro traz como personagens,
dentre outras, o meirinho Leonardo-Pataca, a saloia Maria da Hortaliça, o “cumpadre” (barbeiro), a
“cumadre” (parteira), o major Vidigal e Leonardinho, o protagonista, que, ao final da narrativa,
casa-se com Luisinha, viúva do advogado José Manuel.
Cite o nome desse romance.
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________________________________________________________________________
B.2. Um dos grandes autores da Literatura Portuguesa também trabalha as profissões, em seu Auto da
Barca do Inferno. Seu intuito, ao construir o que convencionalmente se chama de personagem-tipo,
foi o de criticar determinadas parcelas da sociedade, através da profissão exercida por cada um.
Assim, desfilam, na peça teatral em questão, seres que atendem por suas ocupações, que são sempre
atacadas, ao longo da peça: o Onzeneiro, o Sapateiro, o Frade, o Corregedor e o Procurador, dentre
outros.
Cite:
a) o nome desse escritor português.
___________________________________________________________________________
b) o período da Literatura Portuguesa no qual se enquadra sua produção literária.
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Questão 02
Resposta item A: (4) – (6) – (2) – (5) – (1) – (3) – (3)
Resposta item B.1: Memórias de um Sargento de Milícias; B.2. a) Gil Vicente, b) Humanismo.
Comentário: A questão 02, dividida em dois itens, trabalha com personagens-tipo; ou seja, as personagens
comportam-se, na história, de acordo com a posição – essa, identificada pela profissão – que cada uma ocupa
dentro da narrativa. Desse modo, as profissões mostram-se importantes, ao longo de uma obra literária, para a
caracterização das personagens nela presentes. No item A, o candidato deve associar o nome das personagens
à descrição do trabalho que realizam. Assim, estamos querendo que o candidato mostre-nos o seu
conhecimento de mundo e também se ele teve, durante a leitura do romance, a curiosidade de procurar saber
como trabalhavam determinadas personagens, para, dessa forma, constatar que a escolha de cada uma dessas
ocupações para as figuras que compõem a narrativa não foi feita de forma aleatória, mas que se tratavam de
traços reveladores da postura de cada um dos envolvidos na trama. O coletor não só de Aves de Arribação,
mas da maioria das outras obras literárias, por lidar com grandes somas de dinheiro, há de ser ganancioso; o
professor geralmente é culto; o padre, bondoso etc. As personagens, na primeira parte da questão, são
apresentadas não pelas suas profissões, mas pela descrição de como realizam o seu trabalho. Esperamos que o
candidato seja capaz de associar os traços de cada uma das profissões às personagens. Vejamos: o
funcionário público que recebe os tributos do Estado é o coletor; logo, estamos falando de Asclepíades. O
funcionário que executa o andamento de causas e atos de justiça é o promotor; então, Alípio. O indivíduo
que transmite a outros uma ciência, disciplina ou arte é o professor ou o mestre; assim, temos dois
personagens, em Aves de Arribação, que se dedicam a essa profissão: Agrela e Bilinha. O oficial que redige
autos, atas e outros documentos da fé pública é o escrivão; logo, Casimiro. O indivíduo que se dedica à arte
de governar, o mesmo que estadista, é o político; em outras palavras, estamos tratando de Francisco (ou
Chico) Herculano. O indivíduo que congrega as pessoas em torno da fé, prega a paz e a união entre os povos
e realiza sacramentos religiosos é o padre; logo, estamos nos referindo a Balbino. Já a segunda parte da
questão tem por objetivo explorar o conhecimento dos vestibulandos com relação à historiografia literária.
Sondamos os conhecimentos básicos do candidato acerca de obras canônicas das Literaturas Brasileira e
Portuguesa, no que tange ao enredo, ao nome do autor, à corrente literária na qual essas obras estão
enquadradas etc. A partir daí, procuramos saber se o aluno é capaz de fazer conexões entre as diversas obras
da Literatura em Língua Portuguesa, através de características que elas possuem em comum. Uma delas, o
trabalho com personagens-tipo. Aliás, característica que une as três obras em questão (Aves de Arribação,
Memórias de um Sargento de Milícias e Auto da Barca do Inferno), uma vez que toda a questão gira em torno
dos personagens tipificados. Além disso, há outras características peculiares existentes entre essas obras,
como o fato de serem livros de difícil classificação, no que concerne à sua inserção dentro de uma escola
literária e ao fato de serem considerados romances únicos dos seus autores (estamos nos referindo a Aves de
Arribação e a Memórias de um Sargento de Milícias). Assim, a resposta ao item B.1. é Memórias de um
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Sargento de Milícias. Esse clássico da Literatura Brasileira, escrito por Manuel Antônio de Almeida,
aproxima-se de Aves de Arribação, de Antônio Sales, por meio de determinadas características: trabalha com
personagens tipificados e traz consigo traços de escolas literárias diferentes e até opostas (Romantismo e
Realismo). Já a resposta da alternativa a do item B.2, que trata de um cânone da Literatura Portuguesa, é Gil
Vicente. Esse autor português, através de suas peças, utilizava-se de personagens-tipo, que apareciam em suas
obras identificadas pelas profissões que exerciam, com o intuito de criticar a sociedade da época. Exatamente
por isso, o dramaturgo carregava nos traços de cada uma dessas personagens, o que lhes dava um tom
caricatural. A obra de Gil Vicente é enquadrada, por suas características, dentro do Humanismo, visto que
possui ainda traços de uma mentalidade própria da Idade Média, sobretudo no que tange à religiosidade
presente em suas obras, mas antecipa características que seriam amplamente trabalhadas num período
histórico-literário posterior: o Renascimento. Portanto, a resposta correta à alternativa b do item B.2. é
Humanismo.
Pontuação:
03. Numere corretamente cada uma das passagens do romance de Antônio Sales de acordo com a sua
respectiva tendência literária.
( 1 ) Tendência romântica
( 2 ) Tendência realista
( 3 ) Tendência naturalista
( 4 ) Tendência regionalista
( ) – Qual, seu Casimiro! não é crível que aí um pedaço de pedra qualquer tenha eficácia alguma
contra o vírus ofídico, que se espalha rapidamente na circulação e quando chega ao coração, fiô! era
uma vez, sentenciou o coletor com autoridade e ceticismo, derramando os dados no tabuleiro do gamão.
( ) (...) e em D. Florzinha, a quem ia tão bem esse nome meigo e perfumoso, porque era realmente uma
flor de mocidade e beleza, a embalsamar o ambiente em que desabrochava com a fragrância da sua
inocência e da sua bondade.
( ) – Acho que deve estar aqui nestes vinte dias. Ele disse em sua carta que pretende tomar o trem para
o Quixadá no dia 15; chega ali à tarde, dorme, sai de manhã cedo e vem descansar no Riacho da
Ema; sai à tarde e vem dormir na Lagoa; fazendo uma boa madrugada, pode vir descansar no
Croatá e dormir na Varge da Onça; no dia 18 vem dormir no Serrote; no dia 19 pode alcançar
perfeitamente o Lajeiro, embora ande algumas horas com a lua, que é cheia no dia 16.
( ) Acerca de dinheiro e de família, temos conversado. Excelente para encher os ócios de um exilado;
mas quanto a casamento, livra! Fora a pieguice! Preciso de mulher que tenha chelpa e pai alcaide.
Casamento de amor já não se usa.
( ) O dia estava radioso. Chovera à noite e o céu amanhecera fresco e limpíssimo, com um brilho doce
e úmido de cetim novo. Pouco depois o sol se velara sob uma larga barreira de cúmulos flocosos que
se dilatavam em mirantes de prata pelo horizonte acima; mas depois um vento rijo varrera tudo, e
nem a mais ligeira nuvem pincelava o firmamento.
( ) – Então – clamava Matias – a mulher é um instrumento de prazer.
– Não, é um animal como o homem: o nosso comércio é uma troca de sensações; nenhum fica a
dever nada um ao outro por isto.
( ) – “Hei! patrão, este ano não temos chuva!”
– Por quê?
– Porque as carnaúbas estão fulorando.
– Então quando não floram?
– Quando não fuloram... é pior!
( ) (...) o vigário imprimia a segura direção da sua manhosa habilidade, longo tempo educada à socapa
num espírito de ambicioso contido à espera de uma boa ocasião para agir em campo aberto.
( ) A viração vespertina varria a cidade, arrepiando de leve a folhagem da mungubeira e espargindo o
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aroma das suas flores, que pareciam plumilhas de ouro com as pontas esmaltadas de escarlate.
( ) Sua índole exuberante comprazia-se nesse viver forte dos instintos, sem obrigações, sem disciplina,
sem preconceitos (...).
Questão 03
Resposta item: (3) – (1) – (4) – (2) – (1) – (3) – (4) – (2) – (1) – (3).
Comentário: A questão 03 explora o conhecimento do vestibulando no que concerne às características das
escolas literárias abarcadas pelo romance de Antônio Sales, bem como a traços do regionalismo nela
presentes. Acreditamos que o candidato, ao fim do Ensino Médio, já é capaz de identificar, em determinadas
passagens de um livro, o teor romântico, realista, naturalista ou regionalista, dentre outros, que ele possa vir a
ter. Para tanto, o aluno deve valer-se não só de sua leitura de livros, mas também de sua leitura de mundo. O
conhecimento das características dos diferentes estilos de época advindo dos compêndios de historiografia
literária é importante para responder a esta questão. Todavia, a sensibilidade do aluno não só é capaz de
ajudá-lo na resposta como torna-se mesmo algo decisivo para a obtenção de um bom resultado nesta questão.
O primeiro trecho selecionado de Aves de Arribação [– Qual, seu Casimiro! não é crível que aí um pedaço
de pedra qualquer tenha eficácia alguma contra o vírus ofídico, que se espalha rapidamente na circulação e
quando chega ao coração, fiô! era uma vez, sentenciou o coletor com autoridade e ceticismo, derramando os
dados no tabuleiro do gamão. p.11] possui um teor naturalista, visto que temos, nessa passagem, uma
explicação científica, por parte de Asclepíades, de como o “vírus ofídico” mata uma pessoa picada por
serpente. Essa passagem, na obra, vem logo após a exposição de uma crendice popular (o uso da pedra de
veado), realizada por outra personagem, que procurava explicar como uma pessoa poderia salvar-se de uma
mordedura de cobra através da utilização de um determinado objeto com características mágicas e curadoras.
Assim, temos, nas palavras de Asclepíades, uma tentativa de sobrepujar uma crendice popular por meio de
uma explicação científica. Sabe-se que uma das características do Naturalismo, enquanto estética literária, era
a de tentar explicar fenômenos (biológicos, sociais, psicológicos) através da ciência. Essa tinha, portanto, nas
obras naturalistas, um papel importante. Exatamente por isso, temos, nos romances próprios desse estilo de
época, muitos considerados, por isso mesmo, romances-tese, o trabalho com teorias científicas surgidas ao
longo do século XIX, como o Determinismo, o Darwinismo, o Positivismo, o Fisiologismo etc. É bem
verdade que o Realismo também trabalha com essas teorias; contudo, no Realismo, temos essas correntes
científicas voltadas, principalmente, para explicar os desvios “do espírito”, morais, de comportamento dos
indivíduos; enquanto no Naturalismo temos algo mais voltado para o corpo, para a carne, para a animalização
do Homem. A segunda passagem selecionada [(...) e em D. Florzinha, a quem ia tão bem esse nome meigo e
perfumoso, porque era realmente uma flor de mocidade e beleza, a embalsamar o ambiente em que
desabrochava com a fragrância da sua inocência e da sua bondade. p.23] traz um teor romântico, o que
podemos perceber não só pelo nome da personagem, mas também pelos traços que compõem a sua
personalidade (inocência e bondade) e pelos adjetivos que caracterizam o seu nome (meigo e perfumoso). O
terceiro excerto [– Acho que deve estar aqui nestes vinte dias. Ele disse em sua carta que pretende tomar o
trem para o Quixadá no dia 15; chega ali à tarde, dorme, sai de manhã cedo e vem descansar no Riacho da
Ema; sai à tarde e vem dormir na Lagoa; fazendo uma boa madrugada, pode vir descansar no Croatá e
dormir na Varge da Onça; no dia 18 vem dormir no Serrote; no dia 19 pode alcançar perfeitamente o
Lajeiro, embora ande algumas horas com a lua, que é cheia no dia 16. p.14], não contendo mais que uma
mera citação de lugares por onde deveria seguir Alípio até chegar à cidade de Ipuçaba, traz traços
regionalistas, uma vez que apresenta ao leitor a região em que se passa a história. Muitas dessas cidades,
inclusive, existem ainda nos dias de hoje. Antônio Sales certamente utilizou-se da fala de Pe. Balbino, nesse
momento, para reforçar, através das cidades citadas, o traço regionalista de sua obra. Para Azevedo, bastava
dizer que a história se passava na cidade interiorana de Ipuçaba para que a obra apresentasse esse traço
regionalista do qual falamos. O quarto trecho [Acerca de dinheiro e de família, temos conversado. Excelente
para encher os ócios de um exilado; mas quanto a casamento, livra! Fora a pieguice! Preciso de mulher que
tenha chelpa e pai alcaide. Casamento de amor já não se usa. p.32] apresenta um teor realista, visto que se
trata daquilo que muitos chamariam de desvio de comportamento ou de falta de caráter: Alípio mostra-se
ambicioso. Além disso, temos, nessa passagem, uma aversão ao sentimentalismo, característica pregada pelos
realistas: Fora a pieguice! Casamento de amor já não se usa. O quinto excerto selecionado [O dia estava
radioso. Chovera à noite e o céu amanhecera fresco e limpíssimo, com um brilho doce e úmido de cetim
novo. Pouco depois o sol se velara sob uma larga barreira de cúmulos flocosos que se dilatavam em
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mirantes de prata pelo horizonte acima; mas depois um vento rijo varrera tudo, e nem a mais ligeira nuvem
pincelava o firmamento. p.40] possui um teor romântico: temos a natureza sendo descrita de uma forma
poética, através da utilização, por parte do narrador, de determinados adjetivos e de determinadas
metaforizações, como brilho doce e úmido de cetim novo (referindo-se ao céu). A sexta passagem escolhida
[– Então – clamava Matias – a mulher é um instrumento de prazer. – Não, é um animal como o homem: o
nosso comércio é uma troca de sensações; nenhum fica a dever nada um ao outro por isto. p.38] traz consigo
um teor naturalista. Temos, nessa passagem, a animalização do ser humano, exatamente como acontece em
obras representantes do nosso Naturalismo, como O Cortiço, de Aluísio de Azevedo. O sétimo trecho [– Hei!
Patrão, este ano não temos chuva! – Por quê? – Porque as carnaúbas estão fulorando. – Então quando não
floram? – Quando não fuloram... é pior! p.10] possui traços do regionalismo: tanto a palmeira apresentada é
típica da região Nordeste quanto a linguagem apresentada pelo nativo também o é (fulorando). O oitavo
excerto selecionado [o vigário imprimia a segura direção da sua manhosa habilidade, longo tempo educada
à socapa num espírito de ambicioso contido à espera de uma boa ocasião para agir em campo aberto. p.07],
assim como o quarto, também traz consigo um teor realista, visto que trata do “espírito ambicioso” de
determinada personagem (o Pe. Serrão), o que mostra um desvio de caráter, de comportamento; portanto,
algo de teor psicológico, trabalhado, sobretudo, pelos realistas. A penúltima passagem [A viração vespertina
varria a cidade, (...) espargindo o aroma das suas flores, que pareciam plumilhas de ouro com as pontas
esmaltadas de escarlate. p.13], possui traços românticos, assim como a quinta, pois apresenta a natureza
duma forma poética, através da utilização de uma figura de linguagem, que é a comparação (pareciam
plumilhas de ouro com as pontas esmaltadas de escarlate.), e de imagens sinestésicas idealizadas à maneira
romântica, [aroma – sensação olfativa; espargindo – sensação tátil; escarlate – sensação visual]. O último
excerto [Sua índole exuberante comprazia-se nesse viver forte dos instintos, sem obrigações, sem disciplina,
sem preconceitos; (...) p.29] traz consigo características do naturalismo, visto que, mais uma vez, como
aconteceu no sexto trecho selecionado, o Homem é tido como um animal irracional, sujeito à força dos
instintos, alguém sem disciplina e sem obrigações, como é próprio dos animais.
Pontuação: A questão vale dez pontos, sendo um ponto para cada preenchimento correto.
04. Leia as descrições de algumas personagens de Aves de Arribação e, ao lado de cada uma, escreva o nome
da personagem descrita.
4.1 (...) era de estatura mediana, carnação forte, pele fina e morena,
que o sol do sertão tostara levemente, com um sorriso constante na
boca insinuante sobre a qual se arquejava um pequeno bigode
negro. (...) Enquanto se polia para atingir o seu ideal de homem
fino, continuava a ser para os íntimos o boêmio desabusado (...) __________________
_
4.2 Quanto ao caráter, tímido às vezes até a cobardia, outras vezes
exaltado até à insolência, ora afetuoso, ora insultante e caindo
sempre numa crise de arrependimento depois de qualquer excesso.
Um fraco, em suma. A sua vida era como uma teia sem ponto de
apoio nem nos mestres, nem nos condiscípulos: qualquer vento a
arrastava e rompia. Alguns rapazes lhe invejavam as habilidades
literárias, mas esses é que o tratavam com a indiferença mais
desdenhosa (...) __________________
_
4.3 (...) com sua tez muito clara, grandes olhos inocentes (...), rostozinho
rosado, (...) o seu busto se pompeou da meia nudez da camisa, muito
branco e liso, finamente torneado, deixando entrever sob a pala de
renda as duas pequenas protuberâncias dos seios mal sazonados
ainda pela puberdade. Os cabelos de um louro carregado, quase
castanhos, caíam-lhe dos lados formando um resplendor para a
beleza terrena do rosto, (...) criaturinha delicada e distinta... (...) mais
retraída e mais silenciosa (...), maneiras tímidas de adolescente
envergonhada das suas formas e dos seu vestido comprido. __________________
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CCV/UFC/Vestibular 2008 Língua Portuguesa Pág. 6 de 14
4.4 (...) estimada pelo seu gênio alegre e serviçal, dera o seu nome a
uns famosos beijus de goma, que serviam de pão da manhã à maior
parte dos lares de Ipuçaba. (...) era uma gorducha tagarela, pouco
escrupulosa no emprego de certas expressões ousadas, o que a
tornava interessante para os amantes da chalaça grossa; os mais
delicados escandalizavam-se um pouco com os seus
desbocamentos, mas toleravam-na pelo natural compassivo e
generoso do seu caráter. __________________
_
4.5 Muito morena, quase trigueira, dentes magníficos, esbelta e
flexuosa, seria formosa se a boca fosse menor e o nariz não tivesse
o arrebite petulante que lhe dava um ar menos distinto porém mais
provocante. (...) passava por afetada em seus modos e gestos,
acontecendo que, a despeito da sua afabilidade, algumas pessoas,
sobretudo as mulheres, fugiam de conversar com ela porque não
sabiam “falar difícil”. Maliciosos diziam-na cheia de “não-medeixes”,
e outros a qualificavam francamente de pedante. __________________
_
Questão 04
Resposta: Alípio; Matias; Florzinha; Benvinda; Bilinha.
Comentário: A questão 04 explora o conhecimento do vestibulando no que concerne à leitura de Aves de
Arribação por ele realizada e ao seu conhecimento acerca de um dos elementos que compõe a narrativa,
que é a personagem. A partir da leitura de trechos da obra, referentes a descrições físicas e/ou psicológicas
de algumas personagens, espera-se, primeiro, que o candidato seja capaz de identificá-las para, em seguida,
nomeá-las corretamente. Sendo assim, a primeira descrição [(...) era de estatura mediana, carnação forte,
pele fina e morena, que o sol do sertão tostara levemente, com um sorriso constante na boca insinuante
sobre a qual se arquejava um pequeno bigode negro. pág 21. Enquanto se polia para atingir o seu ideal de
homem fino, continuava a ser para os íntimos o boêmio desabusado, (...) pág 29], que mistura
características físicas e psicológicas, refere-se a Alípio. Podemos perceber isso, sobretudo, por duas
características físicas: tratava-se de uma pessoa que tinha uma pele fina e morena, que o sol do serão
tostara levemente, o que nos mostra que essa pessoa era alguém que não tinha costumes de sertanejo, mas
que pouco tempo tinha passado pelo sertão; depois, por dois traços de personalidade: aparentava aos outros
ser um homem fino, bem educado, mas que, para as pessoas mais íntimas, era um boêmio desabusado.
Sabemos, por meio da leitura que, em vários momentos da obra, Alípio aparecia como um homem
excessivamente bem educado para as famílias de Ipuçaba, mas que, na capital de Pernambuco, quando
estudante de Direito, vivia na esbórnia, com seus amigos de curso. A segunda descrição [Quanto ao
caráter, tímido às vezes até a cobardia, outras vezes exaltado até à insolência, ora afetuoso, ora insultante
e caindo sempre numa crise de arrependimento depois de qualquer excesso. Um fraco, em suma. A sua
vida era como uma teia sem ponto de apoio nem nos mestres, nem nos condiscípulos: qualquer vento a
arrastava e rompia. Alguns rapazes lhe invejavam as habilidades literárias, mas esses é que o tratavam
com a indiferença mais desdenhosa; (...) p.34], somente psicológica, pertence a Matias. Duas
características levam-nos a essa personagem: num primeiro momento, o fato de ser homem e de possuir
habilidades literárias; em seguida, o fato de ser covarde e fraco; características que certamente fazem toda a
diferença para o candidato, na hora de identificar a personagem. É bem verdade que a obra Aves de
Arribação traz dois poetas: Alípio e Matias. Entretanto, em diversos momentos da narrativa, entramos em
contato com a personalidade de Matias, diametralmente oposta a de Alípio, que sempre se sentia seguro de
si. A terceira descrição [(...) com sua tez muito clara, grandes olhos inocentes, (...) p.25, rostozinho rosado
(...) p.106, (...) o seu busto se pompeou da meia nudez da camisa, muito branco e liso, finamente torneado,
deixando entrever sob a pala de renda as duas pequenas protuberâncias dos seios mal sazonados ainda
pela puberdade. Os cabelos de um louro carregado, quase castanhos, caíam-lhe dos lados formando um
resplendor para a beleza terrena do rosto, (...) p.71. (...) criaturinha delicada e distinta... (...) mais
retraída e mais silenciosa. p.68, (...) maneiras tímidas de adolescente envergonhada das suas formas e dos
seu vestido comprido p.25], que mescla características físicas com psicológicas, pertence à Florzinha.
Muitos são os indícios que nos levam a tal afirmação: o semblante dos olhos da personagem (inocentes); o
CCV/UFC/Vestibular 2008 Língua Portuguesa Pág. 7 de 14
uso do diminutivo para caracterizar o seu rosto (rostozinho) e a ela como um todo (criaturinha), mostrando
a delicadeza que a envolve. A quarta descrição [(...), estimada pelo seu gênio alegre e serviçal, dera o seu
nome a uns famosos beijus de goma que serviam de pão da manhã à maior parte dos lares de Ipuçaba.p.
50. (...) era uma gorducha tagarela, pouco escrupulosa no emprego de certas expressões ousadas, o que a
tornava interessante para os amantes da chalaça grossa; os mais delicados escandalizavam-se um pouco
com os seus desbocamentos, mas toleravam-na pelo natural compassivo e generoso do seu caráter. p.51],
que envolve características físicas e psicológicas, conduz-nos à Benvinda. Podemos perceber isso logo a
partir da tagarelice que envolve a personagem. O narrador (consciente) dá-nos a saber que Benvinda e o
marido passavam todo o tempo a passear pelas ruas de Ipuçaba, parando sempre em frente às casas dos
conhecidos para conversar. Sabe-se, ainda, que Benvinda possuía um bom coração. Exemplo disso é a
preocupação que demonstrou com a personagem Bilinha, quando chamou Alípio para uma conversa, com o
intuito de sondá-lo quanto a seus reais interesses para com a professora. A última descrição [Muito morena,
quase trigueira, dentes magníficos, esbelta e flexuosa, seria formosa se a boca fosse menor e o nariz não
tivesse o arrebite petulante que lhe dava um ar menos distinto porém mais provocante. p.25. (...) passava
por afetada em seus modos e gestos, acontecendo que, a despeito da sua afabilidade, algumas pessoas,
sobretudo as mulheres, fugiam de conversar com ela porque não sabiam “falar difícil”. Maliciosos
diziam-na cheia de “não-me-deixes”, e outros a qualificavam francamente de pedante. p. 24], que mistura
características físicas com psicológicas, refere-se à Bilinha. Leva-nos a essa certeza, principalmente, o fato
de a personagem ser uma mulher que, perante as demais, falava “difícil”. Vimos, noutra questão, que
Bilinha, assim como outras personagens, caracterizam-se por ser um tipo; ou seja, o fato de ser professora
dava-lhe um conhecimento das coisas e uma maneira de falar que lhe era bastante peculiar.
Pontuação: A questão vale dez pontos, sendo dois pontos para cada indicação correta do nome da
personagem.
05. Uma das características do texto literário é a conotação, mecanismo através do qual recriamos e
alteramos o significado institucionalizado de uma palavra. A linguagem conotativa faz-se presente, em
um texto literário, através da utilização das figuras de linguagem. No quadro abaixo, registra-se o nome
de algumas das que estão presentes em Aves de Arribação.
Identifique, nas passagens em negrito, presentes nos textos abaixo, transcritos de Aves de Arribação, as
figuras de linguagem apresentadas no quadro acima e, ao lado de cada transcrição, escreva o nome da
figura correspondente.
TRANSCRIÇÃO DE AVES DE ARRIBAÇÃO FIGURA DE LINGUAGEM
a. Sentia-se como o bocejar das casas, cujas portas se abriam
com uma lentidão de pálpebras sonolentas.
b. – Bateu o trinta e um? troçou ainda o Lucas.
c. – É, não foi mal recebido e rendeu um cobrezinho para os
charutos.
d. Matias aguardava com impaciência a chegada do autor dos
Pingentes.
e. – Para quê? meninos. Isto é o país da pomada! Com esta
lingüinha e este jeitinho que vocês sabem, preciso lá
estudar! Isto cá há de ser – patratá! patratá! patratá!
f. Asclepíades conteve a tempo uma careta de contrariedade:
decididamente essa gente conspirava toda para atucaná-lo
com as excelências desse “poeta d’água doce”.
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onomatopéia – comparação – eufemismo – metáfora – prosopopéia – metonímia – antonomásia
g. A zombaria acompanhava-o como as moscas a um animal
chagando.
h. O atual vigário (...) substituíra o padre Serrão, que
pastoreara o rebanho ipuçabense durante treze anos e sete
meses.
i. A alma do auditório vibrava toda e se dobrava àquele
verbo pujante como um campo de panasco ao sopro de
uma lufada.
j. E o bacharel apresentou (...) um volume em cuja capa havia
uma descarada cena de bordel. (..) Este Rabelais falsificado
não deixa de ter seu mérito no gênero.
Questão 05
Resposta item: a) prosopopéia; b) eufemismo; c) metonímia; d) antonomásia; e) onomatopéia; f)
antonomásia; g) comparação; h) metáfora; i) comparação; j) metonímia.
Comentário: A questão 05 explora uma das características do texto literário, que é a sua linguagem
conotativa. Esta se mostra ao leitor, principalmente, através das figuras de linguagem, mecanismo que dá
ao texto uma maior expressividade; ou seja, as figuras de linguagem ajudam o escritor a dizer algo de uma
maneira nova, diferente e criativa, de modo a impressionar o interlocutor e a torná-lo sensível e atento ao
que se diz. Desse modo, as figuras de linguagem são recursos que servem ao enriquecimento artístico da
língua. Nesta questão, queremos saber se o vestibulando é capaz de identificar quais figuras de linguagem
foram utilizadas, pelo autor de Aves de Arribação, para tornar a linguagem da sua obra mais rica e
interessante e, em determinados momentos, mais poética. No item a [Sentia-se como o bocejar das casas,
cujas portas se abriam com uma lentidão de pálpebras sonolentas. p. 20], em bocejar das casas, temos
uma prosopopéia, pois está sendo atribuída a um ser inanimado (a casa) uma característica de ser animado:
o ato de bocejar. No item b [– Bateu o trinta e um? troçou ainda o Lucas. p. 11] temos um eufemismo,
visto que estamos suavizando uma palavra considerada desagradável: morreu. No item c [– É, não foi mal
recebido e rendeu um cobrezinho para os charutos. p. 36] temos uma metonímia, uma vez que estamos
substituindo o objeto pela matéria da qual ele é feito. Ao referir-se ao cobrezinho para comprar charutos,
Alípio estava querendo dizer que a venda do seu livro Pingentes rendeu-lhe algum dinheiro. No item d
[Matias aguardava com impaciência a chegada do autor dos Pingentes. p. 33] temos uma antonomásia,
figura de linguagem que consiste na substituição de um nome próprio por uma expressão que lembre uma
característica, uma qualidade ou que, de alguma outra forma, identifique a pessoa a qual ela se refere.
Assim, o autor dos Pingentes não poderia ser outra pessoa senão Alípio. No item e [– Para quê? meninos.
Isto é o país da pomada! Com esta lingüinha e este jeitinho que vocês sabem, preciso lá estudar! Isto cá há
de ser – patratá! patratá! patratá! p. 28] temos uma onomatopéia. Com essa figura de linguagem, de
acordo com o próprio narrador de Aves de Arribação, Alípio queria representar “o tropel das ordenanças de
um ministro” (p. 28). No item f [Asclepíades conteve a tempo uma careta de contrariedade:
decididamente essa gente conspirava toda para atucaná-lo com as excelências desse “poeta d’água doce”.
p. 142] temos uma antonomásia. No item g [A zombaria acompanhava-o como as moscas a um animal
chagando,(...) p. 33] temos uma comparação, figura de linguagem que consiste em estabelecer, entre dois
seres ou fatos, uma relação de semelhança, atribuindo a um deles características presentes no outro. A
comparação tem como peculiaridade o uso da palavra “como”, quando estabelece a relação de semelhança
da qual tratamos. No item h [O atual vigário, padre Balbino, substituíra o padre Serrão, que pastoreara o
rebanho ipuçabense durante treze anos e sete meses. p. 05] traz uma metáfora. Essa figura de linguagem
consiste numa comparação subentendida entre dois elementos. No trecho selecionado, o rebanho
ipuçabense é o povo da cidade, comparado a ovelhas, como é bem comum acontecer nas Sagradas
Escrituras. No entanto, a metáfora é, como dissemos, uma comparação subentendida; não traz, portanto, o
vocábulo “como” para realizar a relação de semelhança entre os seres envolvidos. No item i [A alma do
auditório vibrava toda e se dobrava àquele verbo pujante como um campo de panasco ao sopro de uma
lufada. p. 23] temos uma nova comparação. A explicação, portanto, é a mesma que foi utilizada para o item
f . No item j [E o bacharel apresentou a Matias um volume em cuja capa havia uma descarada cena de
bordel. (...) Este Rabelais falsificado não deixa de ter seu mérito no gênero. p. 37] temos uma metonímia.
Entretanto, esta se mostra diferente daquela do item c A metonímia consiste na substituição duma palavra por outra, quando entre ambas existe uma proximidade de sentido que permite essa troca. Se no item c,
tínhamos uma relação entre matéria e objeto, no j temos uma relação entre autor e obra.
Pontuação: A questão vale dez pontos, sendo um ponto para cada identificação correta.
06. A. Identifique, no quadro abaixo, as palavras que podem substituir, sem alteração de sentido, as palavras
destacadas no texto e transcreva-as para o espaço correspondente.
(1) FRENÉTICO freguês desleixado exaltado
(2) SORUMBÁTICA triste fácil pretensiosa
(3) OBJURGATÓRIAS designações hipóteses censuras
(4) CONCILIÁBULOS concursos conluios aconchegos
João Ferreira recebera um telegrama da capital, segundo
diziam, mas negava, nada dizia, e apenas sorria com o seu velhaco
sorriso sintomático de mudança de tempo. O boticário, bilioso e
eternamente frenético (1), esquecera-se de passar no caixeiro a
costumeira descompostura vespertina. E a palestra, que há muito tempo
se arrastava ali sorumbática (2) e azeda, envenenada de horríveis
objurgatórias (3) contra a reputação do próximo, tornara-se como por
encanto muito divertida, cortada de gargalhadas a que sucediam longos
conciliábulos (4) cochichados e emocionantes.
SALES, Antônio. Aves de Arribação. Fortaleza: Edições UFC, 2006, p. 125.
(1)____________________
(2)____________________
(3)____________________
(4)____________________
B. O romance Aves de Arribação é rico em expressões que fazem parte da fraseologia brasileira, como as
destacadas abaixo. Identifique entre as palavras e expressões listadas nos retângulos aquela que, sem
alterar o sentido do texto, substitui adequadamente cada uma das expressões em destaque e circule-as.
a) Oh, amiguinho, tire o cavalo da chuva: você está apaixonado pela Bilinha...
permita-me dizer deixe de rodeios seja despretensioso
b) – Magnífica pilhéria! Ia ficar tudo de rabo entre as pernas, como cachorro escorraçado.
deixando vestígio dando o que falar sentindo vergonha
c) – Queira desculpar – mas o doutor está no mundo da lua.
fazendo maluquice proferindo injúrias louvando seu filho à lua nova
d) – Canta, meu passarinho! Quem não conhecer que te compre.
Tu me enganaste bem! Conheço tuas manhas! Você vale muito!
e) – Mas ouça cá, Benvinda; o diabo não é tão feio como o pintam.
que pessoa inquieta! que coisa desagradável! que coisa não tão inaceitável!
f) – Mais amor e menos confiança, seu doutor de uma figa
de pouco dinheiro. digno de esconjuro. capaz de afastar agouros.
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Questão 06
Resposta item A: (1) exaltado; (2) triste; (3) censuras; (4) conluios.
Resposta item B: a) deixe de rodeios; b) sentindo vergonha; c) fazendo maluquice; d) Conheço tuas
manhas; e) que coisa não tão inaceitável; f) digno de esconjuro.
Comentário: A questão 06 explora vocabulário, exigindo do respondente o conhecimento de palavras e
expressões presentes no romance Aves de Arribação. No item A da questão, sem alterar o sentido do
texto, substitui-se frenético, sorumbática, objurgatórias e conciliábulos, respectivamente, por
exaltado, triste, censuras e conluios, visto que, de acordo com Ferreira (s/d): “frenético: 2. arrebatado,
veemente, exaltado” (p. 308); “sorumbático: sombrio, triste, tristonho, macambúzio “(p. 611);
“objurgação. ato de objurgar, censura, repreensão violenta, objurgatória (p. 460); “conciliábulo: 4.
conluio, conventículo (p. 166). No item B da questão, o candidato deve proceder da mesma forma, ou
seja, efetuar substituições sem que se altere o sentido do texto. As substituições corretas são: deixe de
rodeios, sentindo vergonha, fazendo maluquices, conheço tuas manhas, que coisa não tão
inaceitável e digno de esconjuro, visto que, de acordo com Nascentes (1986): “Tirar o cavalo da chuva.
Não ser bobo, deixar de pretensão. Ser franco, deixar de rodeios (p. 63); “Sair com o rabo entre as
pernas. Medroso, envergonhado, como cachorro enxotado (p. 265, 266); “Viver no mundo da lua. Ser
distraído em excesso, alheio às realidades (p. 194); “Quem não te conhece que te compre. Modo de
declarar que conhece as manhas de alguém (p. 76); “De uma figa. Pessoa ou coisa a que ligamos pouco
apreço. Digno de um esconjuro. A figa era um amuleto usado para afastar o mau-olhado (p. 125). diabo.
O diabo não é tão feio como o pintam nem sempre acontece o que se receava; as coisas nem sempre
são tão más como parecem. (Houaiss, p.1028).
Pontuação: A questão vale dez pontos e é composta de dois itens, sendo que o item A vale quatro
pontos; e o B, seis.
07. Leia o texto abaixo e, a seguir, preencha os parênteses com V ou F, conforme seja verdadeiro ou falso o que
se afirma sobre ele.
01
02
03
04
05
06
07
08
Asclepíades ainda achou muito que contar sobre a enfermidade; no seu excessivo interesse traía-se a
satisfação de um quase triunfo, e toda a sua atenção estava posta na filha, cujos sentimentos
procurava surpreender, através de seu semblante inexpressivo, de seu olhar parado e vago, das
palavras triviais que soltava sem uma referência direta ao bacharel. Como aquela criaturinha
que lhe nascera nos braços, que lhe crescera no colo, dia a dia, sempre submissa à sua vontade,
sempre solícita em obedecer-lhe, pudera tornar-se assim impenetrável à sua perspicácia de pai,
assim abroquelada e autônoma em sua vida afetiva, velada por uma discrição calma mas
obstinada, inatingível, refratária à ação da sua autoridade!
SALES, Antônio. Aves de Arribação. Fortaleza: Edições UFC, 2006, 137.
7.1 ( ) O pronome relativo cujos (linha 02) estabelece relação de posse entre o termo antecedente
[filha] e o subseqüente [sentimentos].
7.2 ( ) O pronome relativo que (linha 04) exerce função sintática de objeto direto do verbo soltar
em que soltava.
7.3 ( ) A substituição de bacharel por Alípio em uma referência direta ao bacharel (linha 04)
gramaticalmente faculta a anteposição do artigo definido masculino.
7.4 ( ) Atuam como adjuntos adnominais: lhe, em lhe nascera (linha 05) e lhe em lhe crescera (linha
05).
7.5 ( ) Em linguagem culta formal, recomenda-se empregar obedecê-lo ao invés de obedecer-lhe
(linha 06), sendo esta última considerada um arcaísmo.
7.6 ( ) A expressão dia a dia (linha 05) equivale semanticamente à composta dia-a-dia; o uso do
hífen é uma questão estilística.
7.7 ( ) O uso do acento grave em submissa à sua vontade (linha 05) é obrigatório, pois submissa
exige complemento nominal introduzido por preposição.
7.8 ( ) O uso do acento grave em refratária à ação (linha 08) manter-se-ia mesmo que a expressão
fosse empregada no plural: refratárias às ações.
CCV/UFC/Vestibular 2008 Língua Portuguesa Pág. 11 de 14
7.9 ( ) Tanto em impenetrável (linha 06) quanto em abroquelada (linha 07) há correspondência
biunívoca letra – fonema.
7.1
0
( ) Remetem a um mesmo referente textual sua em sua perspicácia (linha 06) e sua em sua
vida afetiva (linha 07).
Questão 07
Resposta: (V) – (V) – (V) – (V) – (F) – (F) – (F) – (V) – (F) – (F).
Comentário: A questão 07 explora papéis semânticos de pronomes relativos na construção textual (itens 7.1. e
7.2); o papel semântico do artigo definido (item 7.3); função sintática de pronome pessoal átono do caso oblíquo
(item 7.4); regência verbal (item 7.5); o uso do hífen em palavras compostas (item 7.6); o uso do acento grave,
indicativo de crase (itens 7.7 e 7.8); noções gerais de fonologia (item 7.9) e referenciação (item 7.10). O que se
afirma em 7.1 é verdadeiro; o pronome relativo cujos estabelece relação de posse entre o termo antecedente e o
subseqüente. No contexto em apreciação, a personagem Asclepíades procurava surpreender os sentimentos da
filha. O que se afirma em 7.2 é verdadeiro; o pronome relativo que introduz, na oração subseqüente, ‘palavras
triviais’ (linha 03) e atua como objeto direto do verbo soltar. O que se afirma em 7.3 é verdadeiro; antecedendo
o substantivo masculino bacharel, temos a contração da preposição a, exigida pelo nome referência, com o
artigo definido masculino o, o qual se faz necessário à especificação do bacharel ao qual se alude; não qualquer
bacharel, mas ao bacharel Alípio. A substituição de bacharel por Alípio, gramaticalmente, não semanticamente,
facultaria a anteposição do artigo definido. A construção ‘uma referência direta a Alípio’ conotaria um maior
distanciamento; já a construção ‘uma referência direta ao Alípio’ conotaria uma maior intimidade entre aquele
que fala e Alípio. O que se afirma em 7.4 é verdadeiro, o pronome pessoal átono do caso oblíquo lhe atua como
adjunto adnominal tanto em lhe nascera (linha 05), quanto em lhe crescera (linha 05), respectivamente, “que
nascera nos seus braços” e “que crescera no seu colo”. O que se afirma em 7.5 é falso; em linguagem culta
formal, recomenda-se empregar obedecer-lhe ao invés de obedecê-lo. Além disso, obedecer-lhe não se
constitui um arcaísmo. O verbo obedecer é, no padrão culto formal, classificado como transitivo indireto, daí a
atuação do pronome lhe como objeto indireto. O que se afirma em 7.6 é falso; a expressão dia a dia é adverbial
temporal, intercambiável por cotidianamente. Já a palavra composta dia-a-dia é um substantivo, intercambiável
por o cotidiano. O uso do hífen, nesse contexto, não é questão estilística; ele estabelece distinção entre a palavra
composta e a expressão formada pela aproximação das mesmas palavras. O que se afirma em 7.7 é falso
Embora submissa exija complemento nominal introduzido pela preposição a e vontade seja palavra feminina,
portanto, admitindo a anteposição do artigo definido feminino a, antepõe-se ao substantivo vontade o pronome
possessivo sua. Diante de pronomes possessivos, o artigo é facultativo. Desta feita, tanto “submissa à sua
vontade", quanto “submissa a sua vontade” são gramaticalmente corretas. O que se afirma em 7.8 é verdadeiro;
o uso do acento grave em refratária à ação (linha 08) manter-se-ia se a expressão fosse empregada no plural:
refratárias às ações, pois faz-se notar a contração entre a preposição a e o artigo definido feminino no plural
as. O que se afirma em 7.9 é falso; tanto em impenetrável quanto em abroquelada não há correspondência
biunívoca letra – fonema. Impenetrável é vocábulo constituído de 12 letras e 11 fonemas; por sua vez,
abroquelada é vocábulo constituído de 11 letras e 10 fonemas. O que se afirma em 7.10 é falso; sua, em sua
perspicácia (linha 06), remete à perspicácia de Asclepíades; enquanto sua, em sua vida efetiva (linha 07),
remete à vida afetiva da filha de Asclepíades, Florzinha; portanto, o pronome possessivo de 3ª pessoa remete a
referentes textuais distintos.
Pontuação: A questão vale dez pontos, sendo um ponto para cada preenchimento correto.
08. Para responder esta questão, utilize o quadro que segue.
RADICAL SIGNIFICADO
datilo dedo
fono som, voz
gamo / gamia que casa, casamento
grafia / grafo escrita, que escreve
RADICAL SIGNIFICADO
hetero diferente, outro
logia estudo, que trata de
metro que mede, medição
mono um só, único
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Em: – O noivo de Florzinha! Disseram as três, por meio de um choque isócrono de cotovelos, a palavra
destacada significa ao mesmo tempo, ou seja, as duas personagens tocaram no cotovelo uma da outra ao
mesmo tempo.
ISO + CRONO
Forme uma palavra para cada item abaixo, utilizando as informações dadas.
a) instrumento usado na medição dos intervalos de tempo = ________________________
b) que tem sons ou vozes diferentes = ________________________
casamento com pessoa do mesmo grupo social = ________________________
d) estudo da divisão do tempo e fixação de datas = ________________________
e) estudo do som = ________________________
f) que tem dedos iguais = ________________________
g) que ocorre fora do tempo habitual = ________________________
h) que tem só um dedo = ________________________
i) acasalamento com um só = ________________________
j) escrita, ou representação gráfica, dos sons = ________________________
Questão 08
Resposta a) cronômetro; b) heterófono; c) isogamia; d) cronologia; e) fonologia; f) isodátilo; g)
heterócrono; h) monodátilo; i) monogamia; j) fonografia.
Comentário: A questão 08 explora formação de palavras pela junção de radicais gregos, requerendo que o
respondente forme uma palavra para cada item presente na questão, de modo a, corretamente, atender à
significação explicitada em cada item. A união entre crono (tempo) e metro (que mede, medição) atende ao
que fora solicitado em termos semânticos em a: instrumento usado na medição dos intervalos de tempo –
cronômetro. A união entre hetero (diferente) e fono (som) atende ao que fora solicitado em termos
semânticos em b: que tem sons ou vozes diferentes – heterófono. A união entre iso (mesmo) e gamia
(casamento) atende ao que fora solicitado em termos semânticos em c: casamento com pessoa do mesmo
grupo social – isogamia. A união entre crono (tempo) e logia (estudo) atende ao que fora solicitado em
termos semânticos em d: estudo da divisão do tempo e fixação das datas – cronologia. A união entre fono
(som) e logia (estudo) atende ao que fora solicitado em termos semânticos em e: estudo do som – fonologia.
A união entre iso (mesmo) e datilo (dedo) atende ao que fora solicitado em termos semânticos em f: que tem
dedos iguais – isodátilo. A união entre hetero (diferente) e crono (tempo) atende ao que fora solicitado em
termos semânticos em g: que ocorre fora do tempo habitual –heterócrono. A união entre mono (um) e datilo
(dedo) atende ao que fora solicitado em termos semânticos em h: que tem só um dedo – monodátilo. A união
entre mono (um) e gamia (casamento) atende ao que fora solicitado em termos semânticos em i:
acasalamento com um só – monogamia. Por fim, a união entre fono (som) e grafia (escrita) atende ao que
fora solicitado em termos semânticos em j: escrita, ou representação gráfica, dos sons – fonografia. É
importante salientar que, embora os radicais gregos não apresentem acentuação gráfica, nas composições
realizadas em Língua Portuguesa, por exigência das regras de acentuação nela vigentes, cronômetro,
heterófono, isodátilo, heterócrono, monodátilo recebem acento gráfico, pois são palavras proparoxítonas e,
em Português, todas as palavras proparoxítonas devem ser acentuadas.
Pontuação: A questão vale dez pontos, sendo que cada item vale um ponto.
CCV/UFC/Vestibular 2008 Língua Portuguesa Pág. 13 de 14
MESMO TEMPO
Referência Bibliográfica:
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SODRÉ, Nelson Werneck. O Naturalismo no Brasil. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1965.

Teatro Brasileiro do século XX



O começo do século XX marca talvez o período mais crítico do teatro brasileiro. Sob influência do preciosismo vocabular de Coelho Neto ("O Diabo no Corpo", "A Mulher", "O Pedido, Quebranto"), os autores da época enveredaram por caminhos que os conduziram à verbosidade antiteatral. Incluem-se nessa linha Goulart de Andrade ("Renúncia", "Depois da Morte"), João do Rio ("A Bela Madame Vargas", "Um chá das Cinco"), Roberto Gomes ("Casa Fechada", "Berenice"), Paulo Gonçalves ("As Noivas", "A Comédia do Coração") e Gastão Trojeiro ("Onde Canta o Sabiá", "Cala Boca, Etelvina!...).

Mas a época registra a consagração de alguns atores como Itália Fausta, Apolônia Pinto, Leonardo Fróes (v.), Jaime Costa, Cochita de Morais, Abigail Maia, Iracema de Alencar, Procópio Ferreira e Dulcina de Morais.

Contra esse teatro indeciso e acadêmico investiu o movimento modernista de 1922, com Eugênia e Álvaro Moreira, fundadores do Teatro de Brinquedo; Joracy Camargo, cuja peça "Deus Lhe Pague" é considerada a primeira tentativa de teatro social no país; e Oswald de Andrade, um dos maiores representantes do Modernismo, com suas experiências dadaístas e surrealistas em "O Homem e o Cavalo", "A Mostra" e "O Rei da Vela". Embora a dramaturgia modernista não tenha colaborado diretamente para a formulação das futuras diretrizes do teatro brasileiro, suas reivindicações - sementes de toda uma nova concepção estética - tornaram possível a eclosão de movimentos que romperam de vez as amarras da tradição portuguesa.

Cronologia do Teatro Brasileiro no Século XX

Século XX – A primeira metade do século se caracteriza por um teatro comercial. As companhias são lideradas pelos primeiros atores, que se convertem na principal atração, mais que as peças apresentadas. As exceções acontecem quando um bom dramaturgo, como Oduvaldo Vianna, se alia a grandes intérpretes, como Procópio Ferreira e Dulcina de Moraes. Oduvaldo é ainda o introdutor da prosódia brasileira no teatro, atrelado até então a falas aportuguesadas.

1927– O Teatro de Brinquedo apresenta-se no Rio de Janeiro (RJ) com a peça Adão, Eva e Outros Membros da Família, de Álvaro Moreyra, líder do grupo. Formado por amadores, o grupo propõe um teatro de elite. É o começo da insurreição contra o teatro comercial considerado de baixo nível.

1938 – É lançado no Rio de Janeiro (RJ) o Teatro do Estudante do Brasil, concebido e dirigido por Paschoal Carlos Magno e com um elenco constituído de universitários. A primeira montagem é Romeu e Julieta, de Shakespeare, protagonizada por Paulo Porto e Sônia Oiticica, com direção de Itália Fausta.

1943 – Estréia a peça Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, encenada pelo grupo amador Os Comediantes, do Rio de Janeiro. A direção de Zbigniew Ziembinski – É inaugurado, em São Paulo (SP), o Teatro Brasileiro de Comédia (TBC); inicialmente uma casa de espetáculos criada para abrigar os trabalhos de grupos amadores. Dois desses grupos estão à frente da renovação do teatro brasileiro: o Grupo de Teatro Experimental (GTE), de Alfredo Mesquita, e o Grupo Universitário de Teatro (GUT), de Décio de Almeida Prado. No ano seguinte, o TBC se profissionaliza, com a contratação de atores e do diretor italiano Adolfo Celi. Um repertório eclético, constituído de grandes textos clássicos e modernos, além de comédias de bom nível, torna-se a tônica dessa companhia, que, liderada por Franco Zampari em seu período áureo, marca uma das mais importantes fases do teatro brasileiro. O TBC encerra suas atividades em 1964. Outras companhias se formam nos seus moldes: o Teatro Popular de Arte, de Maria Della Costa, a Cia. Nydia Lícia-Sérgio Cardoso o Teatro Cacilda Becker a Cia. Tônia-Celi-Autran.

Alfredo Mesquita funda a Escola de Arte Dramática (EAD) em São Paulo (SP), um dos principais centros de formação de atores.

1953 – Fundação do Teatro de Arena de São Paulo, por José Renato. A princípio apenas uma tentativa de inovação espacial, acaba sendo responsável pela introdução de elementos renovadores na dramaturgia e na encenação brasileiras. A montagem de Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri, em 1958, introduz a luta de classes como temática. Sob a liderança de Augusto Boal, o Arena forma novos autores e adapta textos clássicos para que mostrem a realidade brasileira. Chega à implantação do sistema curinga, no qual desaparece a noção de protagonista, em trabalhos como Arena Conta Zumbi (1965) e Arena Conta Tiradentes (1967), que fazem uma revisão histórica nacional. O Arena termina em 1970.

1958 – Zé Celso, Renato Borghi, Carlos Queiroz Telles e Amir Haddad, entre outros, fundam um grupo amador – chamado Teatro Oficina – na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, em São Paulo (SP). Seus integrantes passam por uma fase stanislavskiana (interpretação realista criada pelo dramaturgo russo Stanislavski, orientada por Eugênio Kusnet. A peça mais importante desse período é Os Pequenos Burgueses (1963), de Maxim Gorki. Logo após a antológica montagem de O Rei da Vela (1967), de Oswald de Andrade o grupo evolui para uma fase brechtiana (interpretação distanciada desenvolvida pelo alemão Bertolt Brecht) com Galileu Galilei (1968) e Na Selva das Cidades (1969), sempre sob a direção artística de José Celso. Com a obra coletiva Gracias Señor, inicia-se a chamada fase irracionalista do Oficina. Uma nova relação com o espaço e com o público reflete as profundas mudanças pelas quais o grupo passa. Essa fase se encerra com As Três Irmãs (1973), de Tchecov.

Década de 60 – Uma vigorosa geração de dramaturgos irrompe na cena brasileira nessa década. Entre eles destacam-se Plínio Marcos, Antônio Bivar, Leilah Assumpção, Consuelo de Castro e José Vicente.

1964 – O grupo Opinião entra em atividade no Rio de Janeiro, adaptando shows musicais para o palco e desenvolvendo um trabalho teatral de caráter político. Responsável pelo lançamento de Zé Keti e Maria Bethânia, realiza a montagem da peça Se Correr o Bicho Pega, Se Ficar o Bicho Come, de Oduvaldo Vianna Filhoe Ferreira Gullar.

1968 – Estréia Cemitério de Automóveis, de Arrabal. Este espetáculo e O Balcão, de Genet, ambos dirigidos por Victor Garcia e produzidos por Ruth Escobar, marcam o ingresso do teatro brasileiro numa fase de ousadias cênicas, tanto espaciais quanto temáticas.

Década de 70 – Com o acirramento da atuação da censura, a dramaturgia passa a se expressar por meio de metáforas. Apesar disso, Fauzi Arap escreve peças que refletem sobre o teatro, as opções alternativas de vida e a homossexualidade. Surgem diversos grupos teatrais formados por jovens atores e diretores. No Rio de Janeiro destacam-se o Asdrúbal Trouxe o Trombone, cujo espetáculo Trate-me Leão retrata toda uma geração de classe média, e o Pessoal do Despertar, que adota esse nome após a encenação de O Despertar da Primavera, de Wedekind. Em São Paulo surgem a Royal Bexiga’s Company, com a criação coletiva O Que Você Vai Ser Quando Crescer; o Pessoal do Vítor, saído da EAD, com a peça Vítor, ou As Crianças no Poder, de Roger Vitrac; o Pod Minoga, constituído por alunos de Naum Alves de Souza, que se lançam profissionalmente com a montagem coletiva Follias Bíblicas, em 1977; o Mambembe, nascido sob a liderança de Carlos Alberto Soffredini, de quem representam Vem Buscar-me Que Ainda Sou Teu; e o Teatro do Ornitorrinco, de Cacá Rosset e Luís Roberto Galizia, que inicia sua carreira nos porões do Oficina, em espetáculos como Os Mais Fortes e Ornitorrinco Canta Brecht-Weill, de 1977.

1974 – Após a invasão do Teatro Oficina pela polícia, Zé Celso parte para o auto-exílio em Portugal e Moçambique. Regressa ao Brasil em 1978, dando início a uma nova fase do Oficina, que passa a se chamar Uzyna-Uzona.

1978 – Estréia de Macunaíma, pelo grupo Pau Brasil, com direção de Antunes Filho. Inaugura-se uma nova linguagem cênica brasileira, em que as imagens têm a mesma força da narrativa. Com esse espetáculo, Antunes Filho começa outra etapa em sua carreira, à frente do Centro de Pesquisas Teatrais (CPT), no qual desenvolve intenso estudo sobre o trabalho do ator. Grandes montagens suas fazem carreira internacional: Nelson Rodrigues, o Eterno Retorno; Romeu e Julieta, de Shakespeare; Xica da Silva, de Luís Alberto de Abreu; A Hora e a Vez de Augusto Matraga, adaptado de Guimarães Rosa; Nova Velha História; Gilgamesh; Vereda da Salvação, de Jorge Andrade

1979 – A censura deixa de ser prévia e volta a ter caráter apenas classificatório. É liberada e encenada no Rio de Janeiro a peça Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho, que fora premiada num concurso do Serviço Nacional de Teatro e, em seguida, proibida.

Década de 80 – A diversidade é o principal aspecto do teatro dos anos 80. O período se caracteriza pela influência do pós-modernismo movimento marcado pela união da estética tradicional à moderna. O expoente dessa linha é o diretor e dramaturgo Gerald Thomas. Montagens como Carmem com Filtro, Eletra com Creta e Quartett apresentam um apuro técnico inédito. Seus espetáculos dão grande importância à cenografia e à coreografia. Novos grupos teatrais, como o Ponkã, o Boi Voador e o XPTO, também priorizam as linguagens visuais e sonoras. O diretor Ulysses Cruz, da companhia Boi Voador, destaca-se com a montagem de Fragmentos de um Discurso Amoroso, baseado em texto de Roland Barthes. Outros jovens encenadores, como José Possi Neto (De Braços Abertos), Roberto Lage (Meu Tio, o Iauaretê) e Márcio Aurélio (Lua de Cetim), têm seus trabalhos reconhecidos. Cacá Rosset, diretor do Ornitorrinco, consegue fenômeno de público com Ubu, de Alfred Jarry. Na dramaturgia predomina o besteirol – comédia de costumes que explora situações absurdas. O movimento cresce no Rio de Janeiro e tem como principais representantes Miguel Falabella e Vicente Pereira. Em São Paulo surgem nomes como Maria Adelaide Amaral, Flávio de Souza, Alcides Nogueira, Naum Alves de Souza e Mauro Rasi. Trair e Coçar É Só Começar, de Marcos Caruso e Jandira Martini, torna-se um dos grandes sucessos comerciais da década. Luís Alberto de Abreu – que escreve peças como Bella, Ciao e Xica da Silva–é um dos autores com obra de maior fôlego, que atravessa também os anos 90.

1987 – A atriz performática Denise Stoklos desponta internacionalmente em carreira solo. O espetáculo Mary Stuart, apresentado em Nova York, nos Estados Unidos, é totalmente concebido por ela. Seu trabalho é chamado de teatro essencial porque utiliza o mínimo de recursos materiais e o máximo dos próprios meios do ator, que são o corpo, a voz e o pensamento.

Década de 90 – No campo da encenação, a tendência à visualidade convive com um retorno gradativo à palavra por meio da montagem de clássicos. Dentro dessa linha tem destaque o grupo Tapa, com Vestido de Noiva, de Nélson Rodrigues e A Megera Domada, de William Shakespeare. O experimentalismo continua e alcança sucesso de público e crítica nos espetáculos Paraíso Perdido (1992) e O Livro de Jó (1995), de Antônio Araújo. O diretor realiza uma encenação ritualizada e utiliza-se de espaços cênicos não-convencionais – uma igreja e um hospital, respectivamente. As técnicas circenses também são adotadas por vários grupos. Em 1990 é criado os Parlapatões, Patifes e Paspalhões. A figura do palhaço é usada ao lado da dramaturgia bem-humorada de Hugo Possolo, um dos membros do grupo. Também ganha projeção a arte de brincante do pernambucano Antônio Nóbrega. O ator, músico e bailarino explora o lado lúdico na encenação teatral, empregando músicas e danças regionais.

Outros nomes de destaque são Bia Lessa (Viagem ao Centro da Terra) e Gabriel Villela (A Vida É Sonho). No final da década ganha importância o diretor Sérgio de Carvalho, da Companhia do Latão. Seu grupo realiza um trabalho de pesquisa sobre o teatro dialético de Bertolt Brecht, que resulta nos espetáculos Ensaio sobre o Latão e Santa Joana dos Matadouros.

1993 – O diretor Zé Celso reabre o Teatro Oficina, com a montagem de Hamlet, clássico de Shakespeare. Zé Celso opta por uma adaptação que enfoca a situação política, econômica e social do Brasil.

1998 – Estréia Doméstica, de Renata Melo, espetáculo que tem forte influência da dança. Essa encenação dá seqüência ao trabalho iniciado em 1994, com Bonita Lampião. Sua obra se fundamenta na elaboração da dramaturgia pelos atores, por meio do estudo do comportamento corporal das personagens.

1999 – Antunes Filho apresenta Fragmentos Troianos, baseada em As Troianas, de Eurípedes. Pela primeira vez, o diretor monta uma peça grega. Essa montagem é resultado da reformulação de seu método de interpretação, alicerçado em pesquisas de impostação da voz e postura corporal dos atores.


Grupos de teatro se destacaram nesse período: TBC, Oficina, Arena, em São Paulo e Opinião, no Rio de Janeiro, à época.

Vale ressaltar, além do inigualável e considerado "divisor de águas" no teatro nacional "Vestido de Noiva" do "Anjo pornográfico", perífrase pela qual ficou conhecido o dramaturgo Nélson Rodrigues, vale ressaltar ainda dois trabalhos teatrais que marcaram época da ditadura, a saber:

# "Eles não usam black-tie", do italiano, radicado no Brasil, Gianfrancesco Guarnieri.

# "Liberdade, Liberdade", da autoria de Plínio Marcos e Millôr Fernandes. Uma peça que mais parecia um manifesto contra a censura.