segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Simulado Terceirão - Específica de Literatura Gabaritada

Simulado Específica de Português / Literatura – 3º EM – 30 novembro 2007

Texto para as questões 01 e 02:

“À televisão

Teu boletim meteorológico

me diz aqui e agora

se chove ou se faz sol.

Para que ir lá fora?

A comida suculenta

que pões à minha frente

como-a toda com os olhos.

Aposentei os dentes.

Nos dramalhões que encenas

há tamanho poder

de vida que eu próprio

nem me canso em viver.

Guerra, sexo, esporte

— me dás tudo, tudo.

Vou pregar minha porta:

já não preciso do mundo.

PAES, J. P. Prosas seguidas de odes mínimas. São Paulo: Companhia das Letras, 1992

01.( UERJ) No poema, a televisão é humanizada, assumindo o papel de interlocutor do eu poético. Identifique o elemento lingüístico que melhor caracteriza essa humanização e transcreva um verso em que ele apareça.

RESPOSTA: O uso da segunda pessoa gramatical.

Um dentre os versos:

• Teu boletim meteorológico

• que pões à minha frente

• nos dramalhões que encenas

•me dás tudo, tudo.

02. (UERJ) Indique o tema geral do poema e explique como ele é abordado criticamente por José Paulo Paes.

Resposta: O tema geral é a sociedade do espetáculo ou a presença da tecnologia na vida do homem.

No texto a televisão representa esse tema geral, simbolizando a solidão humana


Texto para as questões 03 e 04:

“O Império das Lentes

Nas cerimônias de casamento, as retinas das testemunhas foram substituídas pela camcorder do sujeito de terno gasto que grava o enlace andando de um lado para o outro (o distinto padre pode dar licença, por favor?). Cônscia de sua relevância mística, a madrinha chora no exato instante em que os refletores lhe incandescem a maquiagem. Nas festas de escolas primárias, os alunos aprenderam a se apresentar para filmadoras e não mais para pais e mães. Sob o foco automático, a criança já não enxerga o sorriso de orgulho ou de apreensão na face do pai; vê apenas a handycam2 que mascara o seu rosto. Se a televisão é a arena da história contemporânea, as câmaras de vídeo domésticas se tornaram o olhar autorizado da intimidade familiar (e de outras intimidades nem tão familiares assim). Nas férias, o estranho fenômeno se generaliza, escancarando em público o vazio em que existimos. O viajante já não é aquele que contempla o desconhecido, que se reserva a chance do inesperado, que vive, enfim. Protegido por sua máscara eletrônica,

que o poupa de estar exposto ao destino, ele apenas grava imagens, e normalmente muito rápido, como quem ainda tem uma longa lista a cumprir. O turista é um apressado. Depois, claro, jamais terá tempo de rever o que filmou. Continuará com pressa. De bom grado, ele substitui a própria memória pela fita magnética, mas esta também logo se perderá numa estante empoeirada, guardando imagens sem nexo. São as imagens do espetáculo que não foi vivido, pois quem poderia vivê-lo se ocupou em gravá-lo (ou em posar para a gravação). Ali jaz a vida que poderia ter sido. Ali jaz o desejo que não se satisfez, pois entre ele e o turista havia um muro transparente, um vidro, uma câmara, essa engenhoca que reina soberana no espaço exíguo que separa o homem de si mesmo.”

BUCCI, Eugênio. Veja, 03/12/1996.

1camcorder – filmadora

2handycam – filmadora de mão

03. (UERJ) Cônscia de sua relevância mística, a madrinha chora no exato instante em que os refletores lhe incandescem a maquiagem.

No trecho citado, o autor emprega a ironia para intensificar sua crítica à situação descrita.

Explique como esse recurso de linguagem intensifica a referida crítica.

RESPOSTA: A ironia é empregada para desmascarar atitudes e poses produzidas exclusivamente para

as câmeras.

04. (UERJ) Ali jaz a vida que poderia ter sido.


Esta sentença, no primeiro momento, parece uma contradição.

Identifique, em uma frase completa, essa contradição aparente.

RESPOSTA: A contradição está em usar para o sujeito “a vida” o predicado “jaz”, que se associa à

morte.

05 (Fuvest-SP)


I. Para se candidatar a um emprego, o recém-formado compete com levas de executivos de altíssimo gabarito, desempregados. O jovem, sem experiência, literalmente, dança.


II. Acostumados às apagadas, às vezes literalmente, mulheres dos dirigentes do Kremlin, os russos achavam que ela era influente demais, exibida, arrogante.

a) O advérbio “literalmente” está adequadamente empregado nos dois textos? Justifique sua resposta.

RESPOSTA: Não, o advérbio “literalmente” não está adequadamente empregado nos textos. O termo

“literal” é utilizado quando o sentido da palavra a que se refere é exatamente o que a

palavra diz, não podendo ser ampliado e ela não podendo ser interpretada de outra forma.

b) A que palavra, em II, se refere a expressão “às vezes literalmente”? Qual o duplo sentido produzido pela relação que aí se estabeleceu?

RESPOSTA: A expressão se refere às mulheres dos dirigentes. O duplo sentido se deve ao fato de que

pode-se interpretar ou que as mulheres eram mesmo apagadas ou que nem sempre eram as

esposas dos dirigentes.


06. (Unicamp-SP) Na coluna “De zero a dez”, de Rubem Tavares, publicada na revista Business Travell, 34, no primeiro semestre de 2000, p. 13, encontram-se, entre outras, as seguintes notas, parcialmente adaptadas:

“Para os lunáticos que insistem em soltar balões de grande porte, causando incêndios e sérios riscos à segurança dos vôos: segundo o Controle de Tráfego Aéreo, em 1998 foram registradas 99 ocorrências em Guarulhos. Em todo o ano passado foram registradas 33 ocorrências e, neste ano, só no período de janeiro a abril, já foram 31. As autoridades deveriam enquadrar os responsáveis por crime inafiançável e trancafiá-los em presídios por longos anos.”

“Não seria o caso de a Prefeitura pagar por cada nova pichação feita na cidade? É claro que sim. Se todos entrassem com uma ação simultaneamente, com certeza o prefeito encontraria novas atribuições para a Guarda Municipal. Vide sugestão na nota anterior que também poderia ser aplicada nestes casos.”

a) Qual é a conclusão implícita na seqüência “neste ano, só no período de janeiro a abril, já foram 31”, que se encontra na primeira nota?

RESPOSTA:

Considerando-se os quatro meses de janeiro a abril, em que ocorreram 31 ocorrências,

e os doze meses do ano anterior, no qual ocorreram 33 ocorrências, entende-se que a

situação piorou muito, já que se prevêem 93 ocorrências para o ano atual.

b) Explicite a sugestão dada no final da segunda nota:

RESPOSTA: O final da segunda nota sugere que os pichadores, tanto quanto os baloeiros, sejam

enquadrados como “responsáveis por crime inafiançável” e trancafiados “em presídios

por longos anos”.

07. (Unicamp-SP) Considere o poema a seguir

“Inventário

Povoam o escritório

vários utensílios

uns bastante sóbrios

outros indiscretos

Por exemplo: a mesa

é sóbria. Rumina

todos os papéis

no oco das gavetas

O que a mesa expele

para a superfície

é simples dejeto

livre de mistério

O arquivo também

é móvel discreto

e diz muito pouco

de interesse humano

A caneta, o lápis

o papel, o cesto

são só instrumentos

sem vontade própria

Dois os indiscretos:

minhas duas mãos —

úlcera no estômago

da repartição

Aparentemente

peças quase iguais

às demais: os mesmos

modos funcionais

Contudo é preciso

vê-las em sua marca:

no rastro dos dedos

no selo do gesto

Ali onde transgridem

a ética da classe

que proíbe os objetos

de serem pessoais

Onde desconhecem

o acordo em vigor

que as coisas transforma

em armas submissas

Não pactuam — hostis

minhas duas mãos

acidulam o ar

da repartição”

ALVIM, Francisco. Amostra Grátis. In: Poesias Reunidas (1968-1988). São Paulo: Duas Cidades, 1988

a) De qual critério se serve o poeta para classificar as diferenças entre os “vários utensílios” que “povoam o escritório”? Por que essa classificação destoa tanto da nossa percepção habitual?

Resposta: Através do eu lírico, o poeta personifica os objetos, atribuindo-lhes características de

um ser vivo, sobressaindo-se a discrição e a indiscrição, visto que os utensílios que “povoam”

o escritório, são caracterizados como sendo sóbrios. Excetuam-se, porém, as mãos do

eu lírico, cuja principal característica é a indiscrição, principalmente em comparação com

os objetos do escritório. Suas mãos são voluntariosas, pessoais, enquanto os objetos são

impessoais, discretos.

Essa classificação dos objetos destoa de nossa percepção habitual porque contrasta com a

impessoalidade com a qual os vemos. Pode-se notar no poema uma percepção de que a

poesia humaniza o espaço circundante, o qual é automatizado, impregnado por uma rotina

que impede uma visão mais humana da vida.


b) Como aparece a presença humana em meio ao ambiente da repartição?

Resposta: A presença humana se dá no poema por meio das mãos do eu lírico. Elas possuem um

poder transformador, visto que, embora aparentemente sigam as mesmas regras da rotina

de trabalho dos objetos que a circundam, podem interferir na realidade do ambiente em

que se encontram. Como as mãos são características humanas, pode-se dizer que no poema

é destacada a importância do homem, que se sobressai na repartição, sendo o responsável

pela existência das coisas que o cercam e por sua presença aí, já que com elas se

relaciona.

08. ( ITA-SP) O texto a seguir foi publicado na seção “Cartas do leitor” da Folha de S. Paulo de 30/08/2000. Referida a um crime que teve repercussão na imprensa escrita e falada, esta carta dá uma notável demonstração de machismo e desprezo pelas mulheres..

“A recente morte violenta de uma jornalista choca a todos porque, nesse fato, o assassino foge ao perfil comum de tais tipos, mas certas situações que levam a isso estão aí, nos círculos milionários, meios artísticos, esportivos e de poder. Tudo porque o homem não aprende. Há milênios, gosta de passar aos demais uma imagem de eterna juventude e virilidade, posando com fêmeas muito mais jovens. Fingem acreditar que elas estão aí por amá-los. São poucas vezes atraídas pelo seu intelecto, e muitas pela fama, poder e dinheiro. A durabilidade de tais ligações, no geral, termina quando tal fêmea atinge seu objetivo. Pior ainda, quando essa fêmea mostra também intelecto e capacidade de sobrevivência sem seu protetor. Duro, triste, real.”

ZANINI, Laércio. Garça, SP

a) O texto usa, em relação às mulheres, um termo fortemente conotado, e lhes atribui um comportamento que as desqualifica. Transcreva uma frase em que o termo ocorre, associado à descrição de comportamentos que desqualificariam as mulheres. Sublinhe o termo em questão na sua frase.

Resposta: “A durabilidade de tais ligações, no geral, termina quando tal fêmea atinge seu objetivo.”

(Sendo que o objetivo em questão é a fama, o poder e o dinheiro.)

b) Quais os traços de caráter das mulheres em relação aos quais os homens deveriam se precaver, segundo o autor dessa carta?

Resposta: Segundo o autor da carta os homens deveriam tomar certo cuidado no que diz respeito

à astúcia e à ambição das mulheres, visto que a ambição leva as mulheres a aproximar-se

dos homens para conseguir fama, poder e dinheiro e, uma vez atingidos seus objetivos,

podem libertar-se do protetor.

c) A quem se refere o autor da carta, na frase “o homem não aprende”?

Resposta: A todos os seres humanos do sexo masculino.

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